quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

NOÇÕES DE LÓGICA INFORMAL

PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS INFORMAIS


-Os argumentos informais são argumentos em que a validade não depende só da sua forma lógica.

-A validade destes argumentos depende também do contexto prático da argumentação, do seu conteúdo e do estado cognitivo do auditor.

-Os principais tipos de argumentos informais são os argumentos indutivos e os de autoridade.




OS ARGUMENTOS INDUTIVOS E OS SEUS DIVERSOS TIPOS


-Um argumento indutivo é aquele em que a validade não depende exclusivamente da sua forma lógica.

-Num argumento indutivo válido, a conclusão, embora não sendo absolutamente garantida pelas premissas, é fortemente apoiada por elas.

-Numa indução a conclusão nunca é absolutamente garantida, mas sim provável, plausível ou verosímil.

-Num argumento indutivo válido é muito provável que a conclusão seja verdadeira e, deste modo, o argumento é considerado forte.

-Existem três tipos de argumentos indutivos: a generalização, a previsão e o argumento por analogia.



A GENERALIZAÇÃO

-A generalização, como o próprio nome indica, consiste em generalizar, isto é, em atribuir a todos os elementos de uma classe aquilo que só vimos ou conhecemos em alguns.

-Este raciocínio leva-nos a dizer de todos aquilo que só sabemos de alguns.

-A conclusão de uma generalização será sempre bastante ampla.

-É evidente que quando atribuímos a todos os casos possíveis aquilo que só observámos em alguns, estamos a tirar uma conclusão geral a partir de premissas particulares ou menos gerais.

-Neste tipo de argumento, as premissas são sempre menos abrangentes do que a conclusão.-Numa generalização, a conclusão tem tendência a dizer mais do que as premissas, daí que a conclusão seja sempre universal.

-Contudo, este tipo de raciocínio não garante a verdade da conclusão.-Na generalização, a conclusão poderá ser muito provável ou plausível, mas nunca temos a garantia da sua absoluta verdade.

-Ainda que se parta de premissas verdadeiras, não há possibilidade de garantir logicamente a verdade da conclusão.

-Na generalização, as conclusões são logicamente falíveis.

-Há três regras fundamentais que se devem cumprir para que uma generalização seja forte.

-A primeira regra diz que a amostra deve ser ampla, ou seja, quanto maior for o número de casos observados, mais forte será o argumento (eu poderei dizer com mais força e legitimidade que “todas as bailarinas são vaidosas” se tiver observado 150 balarinas, do que se tiver observado só 3 ou 4).

-A segunda regra diz-nos que a amostra deve ser relevante, isto é, deve haver uma relação entre o conteúdo das premissas e o conteúdo da conclusão, de modo que toda a classe seja representada.

-Esta regra defende que uma amostra deve representar toda a classe e não apenas algumas das suas espécies e defende ainda que a conclusão não pode esquecer aspectos importantes e conhecidos da classe (para eu concluir com mais legitimidade que “todos os iogurtes são doces”, convém que prove de todos os sabores e de todas as marcas e que experimente também os iogurtes magros).

-A terceira regra diz: não omitir informação relevante, o que significa que não se pode ocultar informação importante quando queremos generalizar (eu não posso apresentar a conclusão que diz que “todos os alunos da turma X são simpáticos”, se um determinado aluno tiver sido profundamente antipático numa situação qualquer).

-Assim, um argumento é mau (inválido, fraco) quando esconde uma prova de que a conclusão é falsa.

-Este processo de generalização indutiva está, por exemplo, na base das sondagens e da investigação em algumas ciências, nomeadamente a biologia ou a sociologia.

-A generalização não afasta a possibilidade de erro, uma vez que não há garantia da verdade da conclusão. Isto acontece devido ao carácter «aberto» do raciocínio indutivo, já que a qualquer momento podemos descobrir um facto que altere completamente a conclusão.

-No entanto, deve afirmar-se que o raciocínio indutivo pode ser bastante preciso e de
confiança.



A PREVISÃO

-Numa previsão as premissas reportam-se sempre a um conjunto de casos e a conclusão diz respeito a casos particulares.

-Este tipo de argumento parte de casos passados para obter uma conclusão que se refere a casos particulares ainda não observados.

-Também na previsão a verdade da conclusão não é garantida.

-Efectivamente, nada impede que venha a ocorrer um resultado Z mesmo que nos casos observados até agora tenha acontecido sempre um resultado Y.

-A previsão é um tipo de raciocínio em que se espera que o que ocorreu até agora venha também a ocorrer no futuro, prevendo-se, deste modo, que a realidade e os fenómenos se mantenham constantes ou permanentes.

-Uma regra essencial para que uma previsão possa ser considerada forte é a seguinte: quanto mais elevado o número de casos observados, mais provável será a ocorrência de um caso igual (ainda não observado).




O ARGUMENTO POR ANALOGIA

-Este argumento consiste em atribuir uma propriedade a um objecto ou a uma situação, por tal propriedade ocorrer num objecto ou numa situação semelhante.

-Um argumento por analogia baseia-se numa comparação.

-O raciocínio analógico tem a seguinte estrutura: perante duas realidades que se assemelham fortemente e tendo uma delas uma certa característica, concluímos que também a outra tem essa mesma característica.

-Nos argumentos por analogia a conclusão não é garantidamente verdadeira, podendo estes argumentos ser mais ou menos fortes.

-Para determinar a força e a legitimidade de uma analogia é necessário recorrer a certos critérios ou regras.

-A primeira regra diz que a amostra deve ser suficiente, ou seja, a conclusão será tanto mais forte quanto mais elevado o número de objectos comparados.

-A segunda regra afirma que o número de semelhanças verificadas deve ser suficiente, o que significa que a força do argumento analógico cresce se o número de semelhanças verificadas aumentar.

-A terceira regra defende que as semelhanças verificadas devem ser relevantes, isto é, as semelhanças são relevantes se evidenciarem que há algo de significativo que efectivamente relaciona os objectos comparados.

-Do mesmo modo, podemos afirmar que uma analogia não tem validade se os objectos comparados não forem semelhantes nos seus aspectos relevantes.

-A falácia da falsa analogia ocorre quando há diferenças entre as duas coisas comparadas que derrotam a conclusão.

-Um argumento analógico satisfatório será o seguinte: «um homem grita quando lhe batem; um cão grita quando lhe batem; um homem foge quando lhe batem; um cão foge quando lhe batem, um homem sente dor quando lhe batem; logo, um cão sentirá dor quando lhe batem».




O ARGUMENTO DE AUTORIDADE

-Um argumento de autoridade consiste em defender a verdade de uma conclusão porque uma certa autoridade (uma ou várias pessoas, uma ou várias instituições) defende que ela é verdadeira.

-Num argumento de autoridade, a conclusão não é garantidamente verdadeira, mas as premissas podem apoiar fortemente a conclusão, isto é, podem contribuir bastante para que ela seja aceite como muito provável.

-Contudo, é necessário que a autoridade invocada satisfaça certas condições:

- A primeira é a condição de competência, o que significa que a autoridade invocada tem que ser competente no que respeita ao assunto em causa. Ou seja, as pessoas ou instituições mencionadas têm que ser especialistas de reconhecido mérito nos assuntos em questão.

-Por outro lado, deve haver consenso entre os especialistas sobre os assuntos abordados, o que quer dizer que não podem existir autoridades competentes que se contradigam.

-Platão e Descartes defendem que «a alma é imortal», mas há outros filósofos igualmente competentes que não defendem a mesma tese, logo, este não é um argumento inteiramente satisfatório e não podemos tomar a posição daqueles filósofos como uma justificação absoluta para acreditarmos na imortalidade da alma.

-Outra condição é a condição de imparcialidade, o que quer dizer que a autoridade invocada tem de ser imparcial sobre o assunto em causa. Por exemplo, se uma empresa tabaqueira declarasse que «o tabaco faz bem à saúde», não levaríamos a sério a sua posição, pois sabemos que essa empresa não é imparcial, dado o seu interesse em vender tabaco.

-Um argumento de autoridade satisfatório seria o seguinte: «os nutricionistas defendem que uma alimentação pobre em vegetais é pouco saudável; logo, uma alimentação pobre em vegetais é pouco saudável». De facto, sabendo que os nutricionistas são autoridades competentes e imparciais no que respeita à nutrição e que não há outras autoridades que os contradigam, a premissa constitui uma boa razão para aceitar a conclusão.