terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

DAVID HUME E O EMPIRISMO





DAVID HUME (1711-1776)
-Hume realizou uma investigação sobre a origem, possibilidade e limites do conhecimento.
-Este autor pensa que a capacidade cognitiva da razão humana é limitada e que não existe nenhum fundamento objectivo para o conhecimento.
-O empirismo de David Hume opõe-se, portanto, ao racionalismo de Descartes.
-Segundo Hume, todo o conhecimento deriva da experiência.
-Para este filósofo escocês, todas as nossas ideias têm origem nas impressões dos sentidos.



IMPRESSÕES E IDEIAS
-Segundo Hume, o conhecimento é constituído por impressões e ideias.
-As impressões englobam as sensações, as emoções e as paixões.
-As impressões possuem um elevado grau de força e vivacidade, porque correspondem a uma experiência presente ou actual.
-As impressões são a base, a origem, o ponto de partida dos conhecimentos.
-As ideias são as representações ou imagens das impressões no pensamento.
-As ideias são memórias ou imagens enfraquecidas das impressões no pensamento.
-As ideias são menos vivas e intensas do que as impressões, já que estas são a causa das ideias.
-Não pode existir ideia sem uma impressão prévia.
-Não há conhecimento fora dos limites impostos pelas impressões.



OS TIPOS DE CONHECIMENTO: CONHECIMENTO DE RELAÇOES DE IDEIAS E CONHECIMENTO DE FACTOS
-Para Hume, o conhecimento de relação de ideias consiste em estabelecer relações entre as ideias que fazem parte de uma afirmação ou de um pensamento.
-Podemos relacionar ideias sem recorrer à experiência, embora todas as ideias derivem das impressões sensíveis.
-O conhecimento de relações de ideias é independente dos factos e, segundo Hume, não nos dá novas informações.
-Este tipo de conhecimento está principalmente ligado à lógica e à matemática.
-Trata-se de um conhecimento que relaciona conceitos ou ideias e que se baseia no princípio de não contradição.
-Segundo Hume, o conhecimento humano também se refere a factos, à experiência.
-Este conhecimento relativo aos factos baseia-se na experiência sensível e é-nos proporcionado pelas nossas impressões.
-O conhecimento de factos não se baseia no princípio de não contradição, já que é possível afirmar o contrário de um facto.
-A verdade ou falsidade de um conhecimento de factos só pode ser determinada através do confronto com a experiência, isto é, a posteriori.



O PROBLEMA DA CAUSALIDADE
-Hume diz-nos que todas as ideias derivam de impressões sensíveis.
-Assim, do que não há impressão sensível não há conhecimento.
-Deste modo, não podemos dizer que tenhamos conhecimento a priori da causa de um acontecimento, ou de um facto.
-Embora tendo consciência da importância que o princípio de causalidade teve na história da humanidade, Hume vai submetê-la a uma crítica rigorosa.
-Segundo David Hume, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões actuais e às recordações de impressões passadas.
-Assim, se não dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no futuro, também não possuímos o conhecimento dos factos futuros.
-Não podemos dizer o que acontece no futuro porque um facto futuro ainda não aconteceu.
-Contudo, há muitos factos que esperamos que se verifiquem no futuro. Por exemplo, esperamos que um papel se queime se o atirarmos ao fogo.
-Esta certeza que julgamos ter (que o papel se queima), tem por base a noção de causa (nós realizamos uma inferência causal), ou seja, atribuímos ao fogo a causa de o papel se queimar.
-Sucede que, segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de causalidade necessária entre os fenómenos.
-Hume afirma que só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação entre a causa e o efeito.
-Para o autor escocês, não se pode ultrapassar o que a experiência nos permite.
-A experiência é, pois, a única fonte de validade dos conhecimentos de factos. Quer dizer que só podemos ter um conhecimento a posteriori.
-A única coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se verificou, no passado, uma sucessão constante, ou seja, que a seguir a um determinado facto ocorreu sempre um mesmo facto.



CONCLUSÕES
-Para D. Hume, é o hábito que nos leva a inferir uma relação de causa e efeito entre dois fenómenos.
-Se no passado ocorreu sempre um determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos que no presente e no futuro também ocorra assim.
-O hábito e o costume permitem-nos partir de experiências passadas e presentes em direcção ao futuro.
-Por isso, o nosso conhecimento de factos futuros não é um conhecimento rigoroso, é apenas uma convicção que se baseia num princípio psicológico: o hábito.
-O hábito é, no entanto, um guia importante na vida prática e no dia-a-dia.
-Uma vez que ainda não vivemos o futuro, o hábito permite-nos esperar o que poderá acontecer e leva-nos a ter prudência e cuidado, ou boas expectativas.
-Enquanto seres humanos, temos vontade (e adaptamo-nos à ideia) de que o futuro seja previsível e, portanto, controlável.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

DESCARTES E O RACIONALISMO



O RACIONALISMO
-O Racionalismo é uma corrente que defende que a origem do conhecimento é a razão.
-Os racionalistas acreditam que só a razão pode levar a um conhecimento rigoroso.
-Os racionalistas desvalorizam os sentidos e a experiência devido à sua falta de rigor.
-Os racionalistas possuem uma visão optimista da razão porque acreditam que ela possibilita o conhecimento humano.



DESCARTES (1596-1650)
-Sendo um racionalista convicto, Descartes procurou combater os cépticos e reabilitar a razão.
-Os cépticos duvidavam ou negavam mesmo que a razão pudesse conduzir ao conhecimento.
-Descartes vai procurar demonstrar que a razão é a origem do conhecimento humano.


DESCARTES E O MÉTODO
-Para mostrar que a razão pode atingir um conhecimento verdadeiro, Descartes vai criar um método.
-Este método tem como objectivo a obtenção de uma verdade indiscutível.
-De entre as regras do método, pode destacar-se a regra da evidência.
-Esta regra diz-nos para não aceitarmos como verdadeiro tudo que possa deixar dúvidas.
-A dúvida é, portanto, um elemento muito importante do método.


A DÚVIDA
-Recusando tudo que possa suscitar incerteza, a dúvida afirma-se como um modo de evitar o erro.
-A dúvida é um instrumento da razão na busca da verdade.
-A dúvida procura impedir a razão de considerar verdadeiros conhecimentos que não merecem esse nome.




CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA
-A dúvida é: »metódica (faz parte de um método que procura o conhecimento verdadeiro);
»provisória (é temporária, isto é, pretende-se ultrapassá-la e chegar à verdade);
»hiperbólica (exagerada propositadamente, para que nada lhe escape);
»universal (aplica-se a todo o conhecimento em geral);
»radical (incide sobre os fundamentos, as bases de todo o conhecimento);
»uma suspensão do juízo (ao duvidar evitam-se os erros e os enganos);
»catártica (purifica e liberta a mente de falsos conhecimentos);
»um exercício voluntário e autónomo (não é imposta, é uma iniciativa pessoal);
»uma prova rigorosa (nada será aceite como verdadeiro sem ser posto em dúvida);
»um exame rigoroso (que afasta tudo que possa ser minimamente duvidoso).

NÍVEIS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA

-Descartes vai aplicar a dúvida a tudo que possa causar incerteza, nomeadamente:
»as informações dos sentidos;
»as nossas opiniões, crenças e juízos precipitados;
»as realidades físicas e corpóreas e, duma maneira geral, tudo que julgamos real;
»os conhecimentos matemáticos;
»também Deus é submetido à prova rigorosa da dúvida, uma vez que Descartes coloca a hipótese de Deus poder ser enganador ou um génio do mal.


-A dúvida hiperbólica e radical e a possibilidade de Deus ser enganador parecem levar a um beco sem saída. Quer dizer, torna-se quase impossível acreditar que a razão humana pode alcançar conhecimentos verdadeiros. No entanto, há uma saída.


O COGITO (PENSO, LOGO, EXISTO)
-A dúvida irá conduzir a razão a uma primeira verdade incontestável.
-Mesmo que se duvide ao máximo, não se pode duvidar da existência daquele que duvida.
-A dúvida é um acto do pensamento e não pode acontecer sem um autor.
-Chegamos então à primeira verdade: «penso, logo, existo» (cogito ergo sum).
-Toda a mente humana sabe de forma clara e distinta que, para duvidar, tem que existir.
-A verdade, para Descartes, deve obedecer aos critérios da clareza e distinção.
-A verdade «eu penso, logo, existo» é uma evidência. Trata-se de um conhecimento claro e distinto que irá servir de modelo para todas as verdades que a razão possa alcançar.
-Este tipo de conhecimento deve-se exclusivamente ao exercício da razão e não dos sentidos.
-Descartes mostrou que a razão, só por si, é capaz de produzir conhecimentos verdadeiros, pois ela alcançou uma verdade inquestionável.
-Mas apesar da razão ter chegado ao conhecimento verdadeiro, ainda não está excluída a hipótese do Deus enganador.
-Descartes considera fundamental demonstrar a existência de Deus, um Deus que traga segurança e seja garantia das verdades.


A EXISTÊNCIA DE DEUS
-Descartes considera que termos a percepção que existimos não chega para a fundamentação do conhecimento.
-Para Descartes, é essencial descobrir a causa de o nosso pensamento funcionar como funciona e explicar a causa da existência do sujeito pensante.
-Descartes parte das ideias que estão presentes no sujeito para provar a existência de Deus.
-As ideias que qualquer indivíduo possui são de três tipos: adventícias, factícias e inatas.
-Uma das ideias inatas que todos nós temos na mente é a ideia de perfeição. É esta ideia que Descartes vai usar como ponto de partida para as provas da existência de Deus.


PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
-Descartes apresenta três provas:
»1ª prova: sendo Deus perfeito, tem que existir. Não é possível conceber Deus como perfeição e não existente.
»2ª prova: a causa da ideia de perfeito não pode ser o ser pensante porque este é imperfeito. A ideia de perfeição só pode ter sido criada por algo perfeito, Deus.
»3ª prova: o ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois se tivesse sido ter-se-ia criado perfeito. Só a perfeição divina pode ter sido a criadora dor ser imperfeito e finito que é o homem e de toda a realidade.

A IMPORTÂNCIA DE DEUS NO SISTEMA CARTESIANO E A QUESTÃO DOS ERROS DO SER HUMANO

-Deus, sendo perfeito, não pode ser enganador. Enquanto perfeição, Deus é garantia da verdade das nossas ideias claras e distintas (por exemplo: 2+2=4 ou «penso,logo, existo»).

-Se Deus é perfeito e criador do homem e da realidade, então é também o criador das verdades incontestáveis e o fundamento da certeza.

-Segundo Descartes, é Deus que garante a adequação entre o pensamento evidente (verdadeiro) e a realidade, conferindo assim validade ao conhecimento.

-Deus é a perfeição, ou seja, é o bem, a virtude, a eternidade, logo, não poderá ser o autor do mal nem responsável pelos nossos erros.

-Se Deus não existisse e não fosse perfeito, não teríamos a garantia da verdade dos conhecimentos produzidos pela razão, nem teríamos a garantia de que um pensamento claro e distinto corresponde a uma evidência, isto é, a uma verdade incontestável. Se Deus não é enganador, então as nossas evidências racionais são absolutamente verdadeiras.

-Se Deus não existisse, para Descartes, seria «o caos» e nunca poderíamos ter a garantia do funcionamento coerente da nossa razão nem ter noção de como se tornou possível a nossa existência.

-Os erros do ser humano resultam de um uso descontrolado da vontade, quando esta se sobrepõe à razão.

-Erramos quando usamos mal a nossa liberdade e quando aceitamos como evidentes afirmações que o não são, logo, Deus não é responsável pelos nossos erros mas é garantia das verdades alcançadas pela razão humana.